Cantar é uma prática de amor

Canções de Natal são como a reveladora paisagem do Presépio, lugar do Mistério. O Mistério é tudo que brota de um puro princípio. Quanto mais nos detemos a considerar o Mistério, mais ele nos aquieta e nos concede a sabedoria de viver junto com a bela quietude das coisas que estão ali no nosso dia a dia. O ar, a água, a terra, a flor, os pássaros, os peixes do mar, os animais das selvas, os gatos e cachorros que dividem conosco a sala de estar, são canções de glória de seu gracioso e contínuo doar-se.

Os animais, as plantas e os minerais moram no espaço, mas o ser humano mora na linguagem; por isso esta canção vem de longe e de perto para dizer que há sempre alguém que fala e canta, alguém que diz a realidade e a palavra em melodia. As canções esclarecem como moramos na realidade. Se formos bons ouvintes vamos perceber que as canções nos convocam às coisas, ao espetáculo de sua interioridade e exterioridade. No soar da melodia e nas palavras, como num badalar de sinos, saímos de nós e pousamos na serenidade das coisas.

“Não vos enganeis, caríssimos irmãos! Toda dádiva boa e todo dom perfeito vem do alto, desce do divino Pai das luzes em quem não há mudança nem sombra de eclipse. De livre vontade ele nos gerou pela Palavra da Verdade, para sermos como que as primícias dentre suas criaturas” (Tg 1, 16-18).

O apóstolo Tiago pede que consideremos as coisas no instante de sua natividade, todas se mostrando como dádivas boas, dons perfeitos da vida do divino Pai das luzes. A Palavra que nos gerou nos concede de um modo falado, escrito ou cantado, participar de uma imensa dignidade. Nos sons das palavras podemos provar, no sentido de saborear, as coisas do mesmo Amor e abraço de seu Criador, do Divino Pai das luzes.

Canções sagradas ou não nos igualam às mensagens que querem revelar e nos colocam nas diversas realizações da vida. Cantar é uma prática de Amor e na prática deste Amor descobrimos que ao amarmos somos de amor amados em tudo o que amamos. Isto foi dito solenemente no livro dos Cantares: “O Amor que nos une é implacável como o abismo; suas labaredas de fogo são faíscas de Javé” (Ct 8,6). É no braseiro do Amor que podemos dar conta de cada coisa, na diferença de seu aparecer e realizar-se. Cada canção é um aceno da presença de Deus Conosco (At 17-28). Cantar é fazer Deus estar presente ou então fazer um itinerário rumo a sua sublime morada. Provando o dom da vida no instante da canção temos a evidência de que somos eternos.


Frei Vitorio Mazzuco

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