Antes tarde do que nunca

Bela é a oportunidade de recomeçar, de perdoar, de reviver! E feliz quem não perde essa chance!

Levantei-me bem cedo e abri a janela. A brisa suave e aconchegante da manhã, ainda escura, tocou-me com mão de pelica e até pareceu ter penetrado minha existência.

Ao abrir a janela tive a inebriante sensação de que Deus olhava para mim. Confesso até que fiquei meio atônito. Ele parece ter-me perguntado: Filho, como você espera que seja seu dia que apenas começa? Fui surpreendido por tal pensamento, e outra coisa não queria senão continuar ali a escutar o que Deus tinha para me falar.

Talvez alguém possa me objetar dizendo: “Esse aí precisa de uma análise, pois não está nada bem”. Corremos o perigo de fazer afirmações amargas. Muitos se esquecem de que a vida também é feita de poesia, de sonhos, do olhar para além. Olhar unicamente para si mesmo, para suas concepções e absolutizá-las é tornar-se pequeno demais. A vida tem grandeza incomensurável, que não se é capaz de medir. Admirar o novo dia, sentir a brisa da manhã, contemplar o Senhor que nos fala e nos estende sua mão, é a grandeza de quem está sempre disposto a recomeçar, a olhar de novo para si e para as coisas, e saber que é possível recomeçar agora e alcançar um novo fim.

É preciso contemplar o amanhecer e o sol que se levanta ditoso todos os dias, sem cessar, sem se cansar. Estar sempre pronto a começar de novo, mesmo que alguém tenha dele reclamado. Ele quer simplesmente nascer, iluminar o dia, repousar no poente, dando adeus à Terra e permitindo que a lua ocupe seu lugar. Sol, bendito sol, que não tem medo de nascer de novo.

Não perca a coragem de recomeçar. Quem assim faz abre para si mesmo a oportunidade do infinito e nele se lança sem reservas. Quem muito se reserva certamente não descobre a grandeza de si mesmo nem a dos outros.

Jesus tem toda a razão quando nos diz que é preciso perdoar sempre. Perdoar é interessante, e é a melhor vingança que eu posso ter. Quem me ofendeu ficará desiludido de sua atitude, porque a minha, a do perdão, desarma qualquer violência. O perdão é amor, e amor é como o mar: vemos seu início, jamais seu fim. Somos assim: carregamos marcas dentro de nós, dores e até angústias. Mas deixar-se prender por essas coisas é deixar de viver.

Aventure-se nessa viagem do perdão, do recomeçar que nos conduz ao infinito. Precisamos aprender a lição do recomeçar sempre, pois nesta vida tudo passa: amarguras, ilusões, frustrações, alegrias e dores. Até nós mesmos vamos passar, e ficará apenas a história daquilo que construímos. Mas não se canse. A vida é como o calendário, que naquele dia primeiro de cada ano nos dá a exata sensação de que nada terminou, e estou outra vez recomeçando. Então, bendito calendário que nos faz entender que é preciso recomeçar. Faça isso, e não fique preso em amarguras. Tenha atitude, pois ela é própria de quem é nobre em seu viver.

Pe. Ferdinando Mancílio, C.Ss.R.

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