A Porta da Misericórdia

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Chegou o momento de abrir o Ano extraordinário da Misericórdia, de contemplar o “rosto da misericórdia de Deus” revelado em Jesus Cristo e de passar pela “porta da misericórdia”, que dá acesso ao Deus paciente e misericordioso. Esta Porta Santa é imagem do próprio Cristo Jesus, Salvador, que nos dá o acesso à misericórdia de Deus.

Se forem bem acolhidos os propósitos e apelos expressos pelo Papa Francisco na Bula Misericordiae Vultus, de proclamação do Jubileu extraordinário da Misericórdia, este será um “tempo favorável”, um ano de muitas graças de Deus para a Igreja e o mundo.

Nosso mundo está marcado por uma série de males, que não podem produzir o bem e a paz, que todos almejam. Ódios e sede de vingança levam a praticar mais guerras e violência contra inocentes; ideologias fechadas, fundamentalismos enrijecidos e fanatismos cegos desencadeiam violências absurdas; egoísmos extremados levam pessoas e povos a fecharem o coração diante da miséria e da dor do próximo; a dignidade e até a vida de pessoas e de povos inteiros é sacrificada para garantir a satisfação de vaidades e alimentar a sede de poder e de dinheiro.

O filósofo político Thomas Hobbes afirmou que “o homem é o lobo do homem” – homo homini lupus – e que o ódio e o egoísmo são as forças motrizes mais importantes do homem e do convívio social; outro filósofo, F.Nietzsche, achou que a força e a vontade de domínio é que movem o mundo; e, hoje, existe uma convicção generalizada de que o dinheiro e a força econômica, de fato, movem o mundo…

Se, na prática, de fato acontece assim, os resultados também são claramente perceptíveis. Esses “senhores do mundo” não são capazes de dar paz e alegria à humanidade. Pelo contrário, provocam conflitos e mais conflitos, sofrimentos e morte por toda parte. Que outra força, então, deveria mover o mundo e a sociedade?

Não é por aí que o mundo se tornará melhor, nem se assegurará a paz. Uma outra lógica precisa orientar o convívio dos povos e das pessoas para que o mundo seja “salvo”. O Papa Francisco nos recorda, ao proclamar o Ano Santo extraordinário da Misericórdia, que somente o amor salva, restaura e cria condições para a paz e a “salvação”. E se trata do amor misericordioso, que não busca vantagens para si, mas volta-se inteiramente para o bem do próximo necessitado. Em outras palavras, somente a misericórdia pode salvar o mundo de suas misérias e conflitos.

A misericórdia estende a mão, de forma desarmada; perdoa e restaura as relações humanas rompidas; a misericórdia volta-se de forma desprendida para o próximo caído ao longo do caminho, como fez o bom samaritano e se interessa por sua situação; a misericórdia é paciente e compassiva diante das fraquezas do próximo e respeita suas limitações. E aceita descer do pedestal das vaidades e das vantagens adquiridas, para compartilhar a sorte das pessoas humilhadas e feridas.

“Sede misericordiosos, como o Pai celeste é misericordioso”, recomendou Jesus. O Jubileu da Misericórdia quer nos recordar que, acima de tudo e de todos, Deus é misericordioso e nos trata com amor misericordioso. E todos temos a necessidade de acolher continuamente esta misericórdia de Deus. A mensagem do Ano da Misericórdia é a superação da religiosidade soberba e farisaica, que pensa não precisar de Deus e até pode impor regras a Deus; mas também a superação da falta de religião, por causa da soberba humana, ou porque ainda não se descobriu que Deus não é o inimigo do homem, que é preciso rechaçar, para que o homem viva…

Deus é um Pai amoroso e compassivo, que nos estende a mão e quer fazer-nos viver em plenitude. O Ano Santo da Misericórdia vem como uma “Boa Nova”, um tempo de júbilo e de graças especiais para toda a humanidade. Que ninguém se exclua, de modo consciente, da misericórdia de Deus e que todos nós sejamos um pouco mais “misericordiosos como o Pai celeste” (cf Mt 18,33).

Cardeal Odilo Pedro Scherer

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